Introdução
Um Design System busca consistência, mas a rigidez excessiva pode levar à rejeição. As equipes de produto frequentemente enfrentam cenários onde um componente padrão precisa de um pequeno ajuste para se encaixar perfeitamente em um layout específico ou atender a um caso de uso ligeiramente diferente. Como permitir essa flexibilidade sem abrir mão da padronização que o Design System proporciona? A resposta está na Customização via Props. Ao expor cuidadosamente certas propriedades na API de um componente, permitimos que os desenvolvedores façam ajustes controlados, adaptando o componente às suas necessidades sem precisar “ejetar” do sistema ou criar variantes únicas. Qual o limite dessa flexibilidade e como projetar props eficazes?
O que é Customização via Props?
Customização via Props é a técnica de projetar componentes de Design System com uma Interface de Programação de Aplicação (API) que inclui propriedades (props) específicas para controlar variações em sua aparência ou comportamento. Em vez de ter um componente monolítico e inflexível, ele expõe “alavancas” que os consumidores podem usar.
Exemplos de customização via props:
- Variantes Visuais: Uma prop
variant
que aceita valores como"primary"
,"secondary"
,"danger"
para mudar a cor de um botão. - Tamanho: Uma prop
size
com opções como"small"
,"medium"
,"large"
. - Estado: Props booleanas como
isDisabled
,isLoading
,isActive
. - Conteúdo Opcional: Props para mostrar/ocultar ícones (
showIcon
), adicionar texto auxiliar (helperText
). - Layout Interno: Props para controlar alinhamento ou direção (
iconPosition="left"
oudirection="vertical"
). - Passagem de Estilos (Controlada): Permitir passar um objeto de estilo limitado ou classes CSS específicas para ajustes finos (usar com cautela).
- Composição (Slots/Children): Permitir que o consumidor injete seu próprio conteúdo em áreas designadas do componente (ex:
children
no React, ou slots nomeados).
O componente encapsula a lógica para renderizar essas variações com base nos valores das props recebidas.
Por que é importante?
Oferecer customização controlada via props é importante para:
- Flexibilidade: Permite que os componentes se adaptem a uma variedade maior de contextos e casos de uso sem exigir a criação de componentes totalmente novos.
- Adoção: Aumenta a probabilidade de as equipes usarem os componentes do DS, pois eles oferecem alguma margem para adaptação.
- Redução de “Ejeções”: Diminui a necessidade de as equipes “desacoplarem” ou criarem versões customizadas fora do sistema.
- Consistência Controlada: Mantém a consistência nos aspectos fundamentais do componente, enquanto permite variações previsíveis.
- Manutenibilidade: As variações são gerenciadas dentro do componente central, facilitando atualizações.
- Clareza da API: Uma API bem definida com props torna o uso do componente mais explícito e fácil de entender.
No entanto, é um equilíbrio. Como o Spotify Engineering discute, é preciso balancear configuração (via props) e customização (permitindo mais liberdade, como passar className
ou children
).
Como aplicar na prática?
Projetar props eficazes para customização requer estratégia:
- Identificar Variações Comuns: Analisar os casos de uso reais e identificar quais variações de um componente são frequentemente necessárias.
- Priorizar Props Semânticas: Preferir props que descrevam a intenção (ex:
variant="danger"
) em vez de props puramente estilísticas (ex:color="red"
). - Usar Tipos Definidos: Para props com um conjunto limitado de opções (como
size
ouvariant
), usar tipos enumerados (TypeScript Enums/Unions, PropTypesoneOf
) para clareza e validação. - Props Booleanas para Estados: Usar booleanos (
true
/false
) para controlar estados simples (ex:isDisabled
). - Ser Cauteloso com Estilos Diretos: Evitar props genéricas como
style
ouclassName
que permitem customização irrestrita, a menos que seja absolutamente necessário e bem documentado. Se permitido, talvez limitar quais propriedades CSS podem ser sobrescritas. - Considerar Composição (Slots/Children): Para flexibilidade de conteúdo interno, usar
children
(React) ou slots nomeados (Vue/Web Components) é muitas vezes mais poderoso e seguro do que múltiplas props de conteúdo. - Documentar Claramente: Documentar cada prop, seus tipos aceitos, valores possíveis e o efeito que ela tem no componente.
- Fornecer Padrões Sensatos: Definir valores padrão para as props para que o componente funcione bem “fora da caixa”.
- Testar as Variações: Garantir que todas as combinações válidas de props resultem em um componente funcional e visualmente correto.
- Iterar com Base no Feedback: Coletar feedback das equipes consumidoras sobre quais props são úteis e quais estão faltando ou são confusas.
Ferramentas ou frameworks relacionados
- Frameworks de Componentes (React, Vue, Angular, Svelte): Todos suportam nativamente a passagem de dados para componentes via props.
- TypeScript / PropTypes (React): Ferramentas para definir e validar os tipos das props, melhorando a robustez e a documentação da API do componente.
- Storybook: Excelente para documentar e visualizar componentes com diferentes combinações de props através de “Controls” interativos.
- Plataformas de Documentação do DS (Zeroheight, etc.): Onde a API de props de cada componente é formalmente documentada.
- Design Tokens: As props de variante visual (ex:
variant="primary"
) geralmente mapeiam para consumir diferentes Design Tokens internamente.
Erros comuns
- Excesso de Props (“Prop Drilling Hell” Indireto): Criar componentes com dezenas de props, tornando-os complexos e difíceis de usar e manter.
- Props Pouco Flexíveis: Não oferecer props suficientes para cobrir variações razoáveis, forçando as equipes a não usar o componente.
- Nomes de Props Confusos: Usar nomes ambíguos ou inconsistentes para as props.
- Permitir Customização Excessiva: Props como
style
ouclassName
irrestritas que permitem quebrar completamente a consistência do DS. - Falta de Validação/Tipagem: Não definir tipos ou valores esperados para as props, levando a erros em tempo de execução.
- Documentação Incompleta: Não documentar claramente o que cada prop faz ou quais valores aceita.
- Valores Padrão Ruins: Escolher padrões que não representam o caso de uso mais comum ou que resultam em um estado visualmente quebrado.
- Não Considerar Composição: Tentar resolver tudo com props quando permitir
children
ou slots seria uma solução mais flexível e limpa.
Conclusão
A customização via props é uma ferramenta essencial no arsenal de um Design System para equilibrar consistência e flexibilidade. Ao projetar APIs de componentes com propriedades bem pensadas, semânticas e claramente documentadas, permitimos que as equipes de produto adaptem os elementos padrão às suas necessidades específicas de forma controlada. A chave é encontrar o ponto ideal: oferecer flexibilidade suficiente para aumentar a adoção e cobrir casos de uso comuns, mas sem comprometer a integridade visual, a usabilidade e a manutenibilidade do sistema. Uma estratégia de props bem executada resulta em componentes mais úteis, um Design System mais adotado e, em última análise, produtos melhores.
Referências
- Atkinson, Lloyd. (2022). Flexible Design System Components With “as/is” Props. Recuperado de https://www.lloydatkinson.net/posts/2022/design-system-component-as-is-props/
- Spotify Engineering. (2021). Customization vs. Configuration in Evolving Design Systems. Recuperado de https://engineering.atspotify.com/2021/04/customization-vs-configuration-in-evolving-design-systems
- React Documentation. Components and Props. Recuperado de https://react.dev/learn/passing-props-to-a-component
- Storybook. Controls. Recuperado de https://storybook.js.org/docs/essentials/controls (Demonstra como documentar e interagir com props)
- Segredo.dev Blog. (2020). O que é um componente reutilizável? Recuperado de https://segredo.dev/blog/o-que-e-um-componente-reutilizavel/
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