34 Definicao Design Drivers

Introdução

Todo Design System bem-sucedido precisa de uma direção clara. Sem ela, as decisões tornam-se arbitrárias, inconsistentes e desconectadas dos objetivos estratégicos da organização. É aqui que entram os Design Drivers: princípios norteadores que traduzem a visão abstrata em critérios concretos para tomada de decisão.

Diferente de princípios genéricos de design, os Design Drivers são específicos para cada organização e contexto. Eles refletem as prioridades únicas, os desafios particulares e as ambições distintivas da empresa.

Quando bem definidos, esses drivers funcionam como uma linguagem comum entre designers, desenvolvedores, product managers e stakeholders, permitindo que todos avaliem propostas e soluções através das mesmas lentes estratégicas.

O que são Design Drivers?

Design Drivers são declarações concisas e direcionais que estabelecem as prioridades e os critérios de sucesso para um Design System. Eles respondem à pergunta fundamental: “O que torna nosso Design System único e valioso para nossa organização específica?”

Alguns exemplos de Design Drivers incluem:

  1. “Velocidade acima de flexibilidade” – Priorizando componentes que aceleram o desenvolvimento, mesmo que isso signifique menos opções de personalização.

  2. “Acessibilidade sem compromissos” – Estabelecendo que nenhuma decisão de design pode comprometer os padrões de acessibilidade, mesmo que isso implique em limitações estéticas.

  3. “Consistência com adaptabilidade contextual” – Definindo que o sistema deve manter coerência visual enquanto permite adaptações para diferentes contextos de produto.

  4. “Desempenho como requisito não-negociável” – Determinando que o impacto no desempenho deve ser considerado em cada decisão de design e implementação.

  5. “Experiência móvel primeiro” – Estabelecendo que todas as soluções devem ser concebidas primeiramente para dispositivos móveis.

Os Design Drivers são mais específicos que valores de marca (como “inovação” ou “confiança”) e mais estratégicos que diretrizes técnicas. Eles ocupam um espaço intermediário que conecta a visão de negócio às decisões práticas de design e desenvolvimento.

Por que é importante?

A definição clara de Design Drivers traz múltiplos benefícios para a gestão e evolução de um Design System:

  1. Alinhamento estratégico: Garante que o Design System reflita e apoie os objetivos de negócio e a proposta de valor da organização.

  2. Tomada de decisão facilitada: Fornece critérios claros para avaliar opções e resolver conflitos de design, reduzindo debates subjetivos.

  3. Priorização eficiente: Ajuda a determinar quais recursos, componentes ou melhorias devem ser priorizados com base no seu alinhamento com os drivers.

  4. Comunicação eficaz: Cria uma linguagem comum para discutir e justificar decisões de design entre diferentes equipes e stakeholders.

  5. Consistência sustentável: Mantém a coerência do sistema ao longo do tempo, mesmo com mudanças de equipe ou expansão do escopo.

  6. Autonomia guiada: Permite que equipes distribuídas tomem decisões alinhadas sem necessidade de aprovação centralizada para cada detalhe.

  7. Avaliação objetiva: Estabelece critérios para medir o sucesso e a eficácia do Design System além de métricas puramente quantitativas.

  8. Resistência a modismos: Ajuda a filtrar tendências passageiras, focando em soluções que realmente servem aos objetivos estratégicos.

Como aplicar na prática

A definição e implementação de Design Drivers eficazes segue um processo estruturado:

1. Pesquisa e descoberta

Comece coletando insights de múltiplas fontes:

  • Entreviste stakeholders de diferentes áreas (design, desenvolvimento, produto, marketing, vendas)
  • Analise a estratégia e os valores da empresa
  • Identifique os principais desafios e oportunidades dos produtos atuais
  • Estude o feedback dos usuários e as métricas de desempenho
  • Avalie as tendências relevantes do setor e as práticas dos concorrentes

2. Síntese e priorização

Com base nos insights coletados:

  • Identifique padrões e temas recorrentes
  • Agrupe ideias relacionadas
  • Priorize os temas com base no impacto estratégico
  • Selecione 3-5 drivers principais (evite ter muitos, pois isso dilui o foco)

3. Formulação e validação

Para cada driver selecionado:

  • Crie uma declaração clara e direcional (evite generalidades)
  • Desenvolva uma breve explicação do seu significado e importância
  • Inclua exemplos concretos de como ele se aplica na prática
  • Valide com stakeholders-chave para garantir alinhamento

4. Documentação e comunicação

Documente os Design Drivers de forma acessível:

  • Inclua-os na documentação principal do Design System
  • Crie materiais visuais que comuniquem os drivers de forma memorável
  • Apresente-os em sessões de onboarding e workshops
  • Relacione-os explicitamente com outros elementos do sistema (princípios, tokens, componentes)

5. Aplicação e avaliação

Integre os drivers ao processo de trabalho:

  • Use-os como critérios em revisões de design e desenvolvimento
  • Referencie-os ao justificar decisões ou resolver conflitos
  • Avalie periodicamente se as soluções implementadas estão alinhadas com os drivers
  • Revise os drivers anualmente para garantir que continuam relevantes

Ferramentas ou frameworks relacionados

Várias ferramentas e frameworks podem apoiar a definição e aplicação de Design Drivers:

  1. Miro/Mural: Plataformas colaborativas ideais para workshops de descoberta e síntese de Design Drivers.

  2. Figma/Figjam: Ferramentas de design que permitem documentar e visualizar os drivers junto com o restante do Design System.

  3. Framework Jobs-to-be-Done: Metodologia que ajuda a identificar as necessidades fundamentais que o Design System deve atender.

  4. Value Proposition Canvas: Ferramenta que pode ser adaptada para alinhar os Design Drivers às necessidades dos usuários internos do Design System.

  5. OKRs (Objectives and Key Results): Estrutura para conectar os Design Drivers a objetivos mensuráveis.

  6. Decision Matrix: Técnica para avaliar opções de design com base no alinhamento com os drivers estabelecidos.

  7. Confluence/Notion: Plataformas para documentar e compartilhar os Design Drivers e seus exemplos práticos.

  8. Storybook/Zeroheight: Ferramentas de documentação que podem incorporar os Design Drivers na apresentação dos componentes.

Erros comuns

Ao definir e implementar Design Drivers, evite estas armadilhas frequentes:

  1. Drivers genéricos demais: Princípios como “usabilidade” ou “qualidade” são universais e não oferecem direção distintiva.

  2. Excesso de drivers: Ter mais de 5-7 drivers dilui o foco e dificulta a priorização efetiva.

  3. Conflitos não resolvidos: Drivers contraditórios sem uma hierarquia clara criam confusão na tomada de decisão.

  4. Desconexão estratégica: Drivers que não refletem os objetivos de negócio e a proposta de valor da organização.

  5. Falta de exemplos concretos: Drivers abstratos sem exemplos práticos de aplicação são difíceis de implementar.

  6. Imposição sem participação: Drivers definidos por uma única pessoa ou equipe sem envolvimento dos stakeholders têm baixa adesão.

  7. Documentação isolada: Drivers que existem apenas em documentos separados, sem integração com o fluxo de trabalho diário.

  8. Ausência de revisão: Drivers que não são reavaliados periodicamente podem se tornar obsoletos à medida que a organização evolui.

  9. Foco excessivo em tecnologia: Drivers muito técnicos que ignoram aspectos de negócio, marca e experiência do usuário.

  10. Métricas inadequadas: Falta de indicadores para avaliar se as decisões estão realmente alinhadas com os drivers estabelecidos.

Conclusão

A definição clara de Design Drivers é um investimento estratégico que eleva um Design System de uma simples biblioteca de componentes para uma ferramenta de transformação organizacional. Ao estabelecer princípios norteadores específicos e alinhados com os objetivos de negócio, você cria uma base sólida para decisões consistentes e impactantes.

Os Design Drivers mais eficazes são aqueles que refletem genuinamente as necessidades e aspirações únicas da sua organização, traduzindo valores abstratos em critérios práticos de decisão. Quando bem implementados, eles não apenas melhoram a qualidade do Design System, mas também fortalecem a cultura de design e a colaboração entre equipes.

Invista tempo na descoberta, formulação e comunicação dos seus Design Drivers, e você verá os benefícios se multiplicarem à medida que o sistema evolui e se expande.

Referências

  1. Design Systems Handbook. (2022). InVision. Recuperado de https://www.designbetter.co/design-systems-handbook

  2. Kholmatova, A. (2017). Design Systems: A practical guide to creating design languages for digital products. Smashing Media.

  3. Curtis, N. (2020). Modular Design Framework: How to Define Design Principles. UX Collective. Recuperado de https://uxdesign.cc/modular-design-framework-how-to-define-design-principles-7df93e1d2560

  4. Suarez, M., Anne, J., Sylor-Miller, K., Mounter, D., & Stanfield, R. (2019). Design Systems Handbook. DesignBetter by InVision. Recuperado de https://www.designbetter.co/design-systems-handbook/

  5. Frost, B. (2021). Atomic Design. Brad Frost. Recuperado de https://atomicdesign.bradfrost.com/chapter-1/

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