Introdução
Design Systems são frequentemente associados à consistência, padronização e eficiência. No entanto, um sistema vivo e saudável também precisa de espaço para evoluir, inovar e experimentar. Como equilibrar a necessidade de estabilidade com o desejo de explorar novas soluções, testar hipóteses e incorporar tendências emergentes sem desestabilizar o sistema central? A adição de padrões experimentais surge como uma abordagem estratégica para gerenciar essa tensão. Trata-se de criar um processo controlado para introduzir, testar e validar novos componentes ou variações antes de promovê-los ao status de padrão oficial. Incorporar um fluxo para experimentação no seu Design System não apenas fomenta a inovação, mas também garante que a evolução do sistema seja guiada por dados e colaboração, mantendo a robustez e a confiança das equipes consumidoras.
O que são Padrões Experimentais?
Padrões experimentais em um Design System referem-se a componentes, estilos, diretrizes ou fluxos de trabalho que estão em fase de teste, validação ou desenvolvimento inicial e ainda não foram totalmente aprovados ou integrados como parte oficial e estável do sistema. Eles representam hipóteses de design ou soluções para novos problemas que precisam ser exploradas e avaliadas em contextos reais antes de uma adoção em larga escala. Diferente dos padrões estabelecidos, os experimentais podem ter um nível de suporte menor, documentação preliminar e estar sujeitos a mudanças significativas ou até mesmo descontinuação com base nos resultados dos testes e feedback. A ideia é criar um espaço seguro para a inovação, onde novas ideias possam ser prototipadas, testadas com usuários (através de testes A/B, testes de usabilidade, etc.) e iteradas sem o risco de introduzir instabilidade nos produtos que dependem dos padrões consolidados do Design System.
Por que é importante?
A capacidade de adicionar padrões experimentais é crucial para a longevidade e relevância de um Design System. Sistemas excessivamente rígidos correm o risco de estagnar, tornando-se obsoletos à medida que novas tecnologias, tendências de design e necessidades dos usuários surgem. Permitir a experimentação controlada oferece diversos benefícios:
- Fomenta a Inovação: Cria um canal formal para que designers e desenvolvedores proponham e testem novas ideias, mantendo o sistema atualizado e competitivo.
- Reduz Riscos: Testar padrões em um ambiente controlado ou com um público limitado antes da adoção geral minimiza o risco de introduzir componentes falhos ou que causem regressões em produtos existentes.
- Validação Baseada em Dados: Permite coletar dados quantitativos e qualitativos sobre a eficácia de um novo padrão antes de investir recursos significativos em sua finalização e integração completa.
- Engajamento da Comunidade: Encoraja a contribuição de diferentes equipes para o Design System, tornando-o um esforço mais colaborativo e representativo das diversas necessidades dos produtos.
- Adaptação Rápida: Facilita a resposta a novas necessidades de negócio ou feedback de usuários, permitindo prototipar e validar soluções rapidamente.
- Evita o “Shadow IT” ou “Design System Paralelo”: Oferecer um caminho oficial para experimentação desencoraja as equipes de criarem suas próprias soluções isoladas quando o sistema principal não atende a uma necessidade específica, mantendo a coesão.
Como Amilton L. Paglia aponta, tratar o Design System como um produto vivo, com etapas de criação, adoção, educação e manutenção, é essencial para seu sucesso, e a experimentação se encaixa naturalmente nesse ciclo de evolução.
Como aplicar na prática?
A implementação de um processo para padrões experimentais requer clareza e estrutura:
- Definir o Status Experimental: Criar uma classificação clara no Design System (na documentação, na biblioteca de componentes) para indicar quais padrões são experimentais. Isso pode ser feito com tags, badges visuais (ex: “Beta”, “Experimental”) ou seções dedicadas na documentação.
- Estabelecer um Processo de Proposta e Avaliação: Definir como novas ideias podem ser propostas (ex: formulário, issue tracker), quem avalia a viabilidade inicial e quais critérios são usados (alinhamento estratégico, esforço vs. impacto).
- Desenvolvimento e Prototipagem: Desenvolver o padrão experimental de forma isolada ou em um branch/versão separada da biblioteca principal. Focar em criar um protótipo funcional para teste.
- Testes e Validação: Definir um plano de teste claro. Isso pode incluir testes de usabilidade, testes A/B em um produto específico ou com um grupo de usuários beta, coleta de feedback de designers e desenvolvedores que o utilizam.
- Coleta de Feedback: Criar canais para coletar feedback estruturado sobre o padrão experimental (ex: formulários, sessões de feedback, canais de Slack/Teams).
- Iteração: Com base nos testes e feedback, iterar no design e implementação do padrão.
- Critérios de Promoção (ou Descarte): Definir critérios claros para quando um padrão experimental está maduro o suficiente para ser promovido a padrão oficial (ex: métricas de sucesso atingidas, feedback positivo consistente, estabilidade comprovada) ou quando deve ser descartado.
- Comunicação Transparente: Comunicar claramente o status dos padrões experimentais, os resultados dos testes e as decisões de promoção ou descarte para toda a comunidade de usuários do Design System.
Exemplo: Uma equipe identifica a necessidade de um novo componente de visualização de dados. Eles propõem a ideia, criam um protótipo funcional marcado como “Experimental” no Design System, testam-no em um dashboard interno, coletam feedback e, após algumas iterações e validação de que ele atende aos requisitos e é robusto, o padrão é promovido para a biblioteca principal.
Ferramentas ou frameworks relacionados
O gerenciamento de padrões experimentais é mais sobre processo do que sobre ferramentas específicas, mas algumas podem ajudar:
- Ferramentas de Documentação de Design System: Storybook, Zeroheight, Specify, etc., podem ser configuradas para exibir o status experimental dos componentes.
- Controle de Versão (Git): Usar branches separadas para desenvolver padrões experimentais ajuda a isolar o trabalho do código principal.
- Gerenciamento de Pacotes (NPM, Yarn): Publicar versões beta ou alpha de pacotes do Design System (
@meu-ds/core@2.0.0-beta.1
) permite que equipes testem as novidades de forma controlada. - Ferramentas de Feature Flags: LaunchDarkly, Optimizely, etc., podem ser usadas para liberar padrões experimentais para segmentos específicos de usuários em produção para testes A/B ou canary releases.
- Ferramentas de Prototipagem: Figma, Sketch, Adobe XD são usadas para criar os protótipos iniciais.
- Plataformas de Teste de Usabilidade: Maze, UserTesting, Lookback facilitam a coleta de feedback qualitativo.
- Ferramentas de Colaboração e Gestão de Projetos: Jira, Trello, Asana, Slack/Teams ajudam a gerenciar o fluxo de propostas, desenvolvimento e feedback.
Erros comuns
Alguns erros podem prejudicar o processo de experimentação em Design Systems:
- Falta de Clareza no Status: Não sinalizar claramente quais padrões são experimentais pode levar equipes a usá-los inadvertidamente em produção, causando problemas.
- Processo Burocrático Demais: Um processo de proposta e aprovação excessivamente longo ou complexo pode desencorajar a experimentação.
- Ausência de Critérios de Saída: Não definir o que significa “sucesso” ou “falha” para um experimento torna difícil decidir se ele deve ser promovido ou descartado, levando a um limbo de padrões semi-prontos.
- Falta de Testes Reais: Confiar apenas na intuição ou em testes internos limitados sem validar com usuários finais ou em contextos reais.
- “Experimento Perpétuo”: Manter padrões em estado experimental por tempo indefinido sem tomar uma decisão sobre sua incorporação ou descarte.
- Má Comunicação: Falhar em comunicar o progresso, os resultados e as decisões sobre os experimentos para a comunidade do Design System.
- Não Integrar Feedback: Ignorar o feedback coletado durante a fase experimental ao tomar a decisão final.
Conclusão
A adição de padrões experimentais é vital para que um Design System não se torne uma relíquia estática, mas sim uma plataforma dinâmica que impulsiona a inovação de forma segura e colaborativa. Ao estabelecer um processo claro para propor, desenvolver, testar e promover (ou descartar) novas ideias, as equipes podem explorar novas fronteiras no design e na tecnologia, mantendo a estabilidade e a confiança no núcleo do sistema. Tratar a experimentação como parte integrante do ciclo de vida do Design System garante sua evolução contínua e sua capacidade de atender às necessidades em constante mudança dos usuários e do negócio. Explore os links abaixo para ver como outras equipes gerenciam a evolução e os desafios de seus Design Systems.
Referências
- Paglia, Amilton L. (2018). Design systems na prática — Desafios, limitações e a evolução das nossas ferramentas. UX Collective 🇧🇷. Recuperado de https://brasil.uxdesign.cc/design-systems-na-pr%C3%A1tica-desafios-limita%C3%A7%C3%B5es-e-a-evolu%C3%A7%C3%A3o-das-nossas-ferramentas-3ff1b09a4216
- Aela Contents. (2021). Design System: Como Funciona e Por que Usá-lo?. Aela | Medium. Recuperado de https://medium.com/aela/design-system-como-funciona-e-porque-us%C3%A1-lo-edc31029f337
- SoftDesign. (2024). Design System: como criar consistência em produtos digitais. Recuperado de https://softdesign.com.br/blog/design-system-o-que-e-e-como-potencializa-produtos-digitais/
- Ranktracker. (2023). Um guia passo a passo para criar um sistema de design. Recuperado de https://www.ranktracker.com/pt-br/blog/a-step-by-step-guide-to-creating-a-design-system/
- CWI Software. (2024). Criando um Design System (DS) do zero. Recuperado de https://cwi.com.br/blog/criando-um-design-system-ds-do-zero/
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